31/12/2009
28/12/2009
24/12/2009
21/12/2009
E se falta alguém que ponha
as bolas e as estrelas
na árvore de Natal,
logo a girafa se oferece
para cumprir a função,
pescoço comprido e esguio
que se ajeita à posição
de quem sabe que a beleza
vive da decoração
e talvez até receba
um molho de erva fresquinha
como sinal de gratidão
dos meninos que esta noite
tão juntinhos aqui estão
as bolas e as estrelas
na árvore de Natal,
logo a girafa se oferece
para cumprir a função,
pescoço comprido e esguio
que se ajeita à posição
de quem sabe que a beleza
vive da decoração
e talvez até receba
um molho de erva fresquinha
como sinal de gratidão
dos meninos que esta noite
tão juntinhos aqui estão
~
José Jorge Letria
17/12/2009
15/12/2009
Não há pinheiros nem há neve,
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz... Mas é Natal.
Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.
Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.
Não há pastores nem ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém, são velhas
E a noite é Noite de Natal.
~
João Cabral do Nascimento
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz... Mas é Natal.
Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.
Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.
Não há pastores nem ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém, são velhas
E a noite é Noite de Natal.
~
João Cabral do Nascimento
14/12/2009
26/11/2009
22/11/2009
in time of daffodils
in time of daffodils (who know
the goal of living is to grow)
forgetting why,remember how
in time of lilacs who proclaim
the aim of waking is to dream,
remember so (forgetting seem)
in time of roses (who amaze
our now and here with paradise)
forgetting if,remember yes
in time of all sweet things beyond
whatever mind may comprehend,
remember seek (forgetting find)
and in a mystery to be
(when time from time shall set us free)
forgetting me,remember me
~
E.E. Cummings
16/11/2009
03/10/2009
01/10/2009
30/09/2009
25/09/2009
22/09/2009
21/09/2009
14/09/2009
Estamos em Março de 1958.
Estou sentado à secretária numa sala de aula vazia do liceu Técnico-Profissional McKee em Staten Island, Nova Iorque. (....)
Hoje de manhã vou ter de tomar decisões. Não tarda, a campainha vai começar a tocar. Vão entrar de rompante e o que irão dizer, se me virem à secretária? Olhem, ele está a esconder-se. São peritos em professores. Estar sentado à secretária significa que está com medo ou que é preguiçoso. Está a utilizar a secretária como barreira. O melhor é sair daqui e ficar de pé. (...) Um erro cometido logo no primeiro dia demora meses a recuperar.
Estou sentado à secretária numa sala de aula vazia do liceu Técnico-Profissional McKee em Staten Island, Nova Iorque. (....)
Hoje de manhã vou ter de tomar decisões. Não tarda, a campainha vai começar a tocar. Vão entrar de rompante e o que irão dizer, se me virem à secretária? Olhem, ele está a esconder-se. São peritos em professores. Estar sentado à secretária significa que está com medo ou que é preguiçoso. Está a utilizar a secretária como barreira. O melhor é sair daqui e ficar de pé. (...) Um erro cometido logo no primeiro dia demora meses a recuperar.
Os miúdos que vão entrar têm 16 anos, ou seja, há onze anos que andam na escola, desde o jardim infantil até aqui. Por isso, os professores, vão e vêm, todos os tipos de professores, novos, velhos, duros, meigos. Os miúdos observam, examinam, julgam. Conhecem a linguagem corporal, sabem interpretar o tom de voz e, em geral, a atitude do professor. (...) Onde é que eu arranjei coragem para pensar que seria capaz de lidar com adolescentes americanos? Ignorânia. Foi daí que veio a minha coragem. (...)
Aí vêm eles. A porta bate contra a pequena prateleira por baixo do quadro, levantando uma nuvem de pó de giz. Entrar numa sala é coisa complicada. Porque não podem simplesmente entrar, dizer Bom dia e sentar-se? Não, nem pensar. Têm de dar empurrões e cotoveladas. Troçam uns dos outros, insultam-se, ignoram o segundo toque, demoram séculos a sentar-se. (...) falam com os amigos que estão do outro lado da sala, acomodam-se nas mesas que são demasiado pequenas para eles, esticam as pernas, riem-se se alguém tropeça. Olham para a janela, (...), olham por cima da minha cabeça ou para os quadros colados à parede por Miss Mudd, já reformada, de Emerson, Thoreau, Whitman, Emily Dickinson e - como é que ele veio aqui parar? - Ernest Hemingway(...) Escavam as suas iniciais nos tampos das mesas com canivetes, declarações de amor com corações e setas ao lado das marcas há muito deixadas pelos seus pais ou irmãos.(...)
Irrompem assim pela sala adentro cinco vezes por dia. Cinco turmas, trinta a trinta e cinco alunos em cada turma. .(...)
~
Frank McCourt
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O Professor_FranK McCourt_Editorial Presença
11/09/2009
1. Caught on a side street in heavy traffic, I said to the cabbie, I should have walked. He replied, I should have been a doctor. 2. When can I get on the 11:33 I ask the guy in the information booth at the Atlantic Avenue Station. When they open the doors, he says. I am home among my people.
~
Harvey Shapiro
09/09/2009
06/09/2009
04/09/2009
01/09/2009
Astromania
26/08/2009
19/08/2009
As ondas quebravam-se, espalhando as águas com suavidade ao longo da praia. Uma a seguir à outra, enrolavam-se e caíam; devido à energia com que o faziam, as gotas eram obrigadas a recuar. As ondas apresentavam uma coloração azul profunda, excepto no que respeitava a um ponto luminoso em forma de diamante situado na crista, que se encrespava de forma semelhante à que acompanha os movimentos dos músculos dos cavalos. As ondas quebravam; recuavam e voltavam a quebrar, emitindo um som semelhante ao que é provocado pelo bater das patas de um animal de grande porte.
~
As Ondas
Virginia Woolf
18/08/2009
30/06/2009
15/06/2009
07/06/2009
Um escritor é alguém que passa anos a tentar descobrir, pacientemente, o segundo eu dentro de si e o mundo que faz dele aquilo que ele é: quando falo de escrita, o que me ocorre imediatamente não é um romance, um poema ou tradição literária, é a pessoa que se fecha num quarto, se senta a uma mesa e, sozinho, se volta para o seu interior; rodeado das suas sombras constrói um novo mundo com palavras. Este homem - ou esta mulher – poderá usar a sua máquina de escrever, beneficiar da facilidade de um computador ou escrever no papel com uma caneta, tal como tenho feito ao longo de 30 anos (…)
Quando me sento à mesa durante dias, meses, anos, acrescentando vagarosamente palavras novas ao vazio do papel, sinto que estou a criar um mundo novo, é como se trouxesse à vida essa outra pessoa em mim, do mesmo modo que alguém constrói uma ponte ou uma catedral, pedra a pedra. As pedras usadas pelos escritores são as palavras. Quando as seguramos nas nossas mãos, apercebendo-nos do modo como cada uma delas se ligam umas às outras, às vezes olhando para elas ao longe, às vezes quase afagando-as com os dedos e a ponta da nossa caneta, pesando-as, mudando-as de sítio, ano sim, ano não pacientemente e esperançosamente estamos a construir um mundo novo….
Quando me sento à mesa durante dias, meses, anos, acrescentando vagarosamente palavras novas ao vazio do papel, sinto que estou a criar um mundo novo, é como se trouxesse à vida essa outra pessoa em mim, do mesmo modo que alguém constrói uma ponte ou uma catedral, pedra a pedra. As pedras usadas pelos escritores são as palavras. Quando as seguramos nas nossas mãos, apercebendo-nos do modo como cada uma delas se ligam umas às outras, às vezes olhando para elas ao longe, às vezes quase afagando-as com os dedos e a ponta da nossa caneta, pesando-as, mudando-as de sítio, ano sim, ano não pacientemente e esperançosamente estamos a construir um mundo novo….
~
Orhan Pamuk
Excerto discurso Prémio Nobel Literatura
* Tradu. "à minha maneira"
31/05/2009
25/05/2009
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
~
Alberto Caeiro
13/05/2009
Bill, à beira da água olhava o ribeiro.
-Eh!- e berrou por sob o barulho da represa.- Que tal pôr o vinho naquela fonte ao pé da estrada?
- Está bem!- berrei eu. Bill acenou e avançou rio abaixo. Tirei do saco as duas garrafas de vinho, e levei-as até à estrada, até onde a água de uma nascente corria num tubo de ferro. Havia uma tampa, que eu levantei, para, depois de rolhar com força as garrafas, as meter dentro de água. Estava tão fria que a mão e o braço ficaram dormentes. Tornei a pôr no seu lugar a tampa, e ansiei porque ninguém desse com as garrafas.
Peguei na minha cana que estava encostada a uma árvore, agarrei na lata das isca e na rede, e caminhei sobre a represa, (…) A comporta estava aberta, e eu sentei-me num dos prumos e observei a suava toalha de água que havia antes de o rio se precipitar nas pedras. Ao pé da represa era fundo. Punha eu uma isca, uma truta saltou da espuma para os rápidos e foi levada na corrente. Antes de eu acabar de pôr a isca, outra truta saltou, descrevendo o mesmo lindo arco e desaparecendo na água (…)
Subi à estrada e tirei as duas garrafas de vinho. Estavam geladas. A humidade embaciava-as quando eu voltei para as árvores. Dispus o almoço num jornal. ...
-Eh!- e berrou por sob o barulho da represa.- Que tal pôr o vinho naquela fonte ao pé da estrada?
- Está bem!- berrei eu. Bill acenou e avançou rio abaixo. Tirei do saco as duas garrafas de vinho, e levei-as até à estrada, até onde a água de uma nascente corria num tubo de ferro. Havia uma tampa, que eu levantei, para, depois de rolhar com força as garrafas, as meter dentro de água. Estava tão fria que a mão e o braço ficaram dormentes. Tornei a pôr no seu lugar a tampa, e ansiei porque ninguém desse com as garrafas.
Peguei na minha cana que estava encostada a uma árvore, agarrei na lata das isca e na rede, e caminhei sobre a represa, (…) A comporta estava aberta, e eu sentei-me num dos prumos e observei a suava toalha de água que havia antes de o rio se precipitar nas pedras. Ao pé da represa era fundo. Punha eu uma isca, uma truta saltou da espuma para os rápidos e foi levada na corrente. Antes de eu acabar de pôr a isca, outra truta saltou, descrevendo o mesmo lindo arco e desaparecendo na água (…)
Subi à estrada e tirei as duas garrafas de vinho. Estavam geladas. A humidade embaciava-as quando eu voltei para as árvores. Dispus o almoço num jornal. ...
~
Hemingway
Fiesta
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